A reapropriação da realidade das grandes cidades, compostas por linhas paradoxais, retas tortuosas, trôpegas, de distinta geometria que se cruzam em esquinas cheias de ângulos que engolem e são engolidas, sufocam padronagems de cores opacas, formam um amontoado morno e saturado de sentidos tal qual os indivíduos perdidos nas solicitações sociais.
Reflete o hedonismo contemporâneo, padronizado, sem horizontes e melancólico, a entrega ao presente e ao prazer, ao consumo que não sugere realização, sugere mais desejo e a ausência de valores e de sentido para a vida.
Submersos sob uma infinidade de artifícios que dão a ilusão de controle absoluto sobre tudo e todos, tentamos desesperadamente nos agarrar mais e mais à ilusão voluntarista de controle e segurança da realidade.
Pensar e meditar acerca dos acontecimentos imprevisíveis e ferimentos inevitáveis permite revelar outras possibilidades, que não apenas representações dadas a priori pelas determinações do impessoal. Em lugar de tentar bloquear a emergência dos sentidos singulares que se desvelam, permite uma apropriação temática da experiência.
As linhas que escorrem seguindo uma imprevisibilidade contida faz uma reflexão e tematização acerca da impossibilidade de controle absoluto das condições da existência do homem. Repelindo esse lugar de controle e asseguramento absolutos, permitindo-se pensar a possibilidade da entrega, "deixar ser" em relação ao mundo.